terça-feira, 16 de julho de 2013

Texto: Souvenir



"Souvenir (palavra francesa) s. m. 1. Lembrança. 2. Presente de amizade para servir de lembrança.

Eu procuro trazer um souvenir dos lugares por onde passo. Diria que, só de olhar para essas coisas – que, ao olho desatento podem ser insignificantes – eu sinto como se existisse algo que me fizesse voltar pra lá. É como se minhas andanças fossem marcadas por um enorme novelo de lã que carrego em mãos por onde passo. Sempre encontro o caminho de volta.

É assim com as pessoas, também. Estamos constantemente expostos ao contato dos nossos semelhantes. Preço e tamanho do souvenir que levamos pra casa são diretamente proporcionais ao significado que a gente atribuiu a esses encontros. Existem aqueles que deixam conosco apenas a mais perecível das memórias, um bilhete ilegível, ou um presente insignificante, ordinário.
Existe também a parcela que não.
Fico feliz, e abro um sorriso toda vez que olho para a minha prateleira e nela encontro as mais valiosas lembranças, das pessoas mais importantes com as quais tive a felicidade de conviver. Cada uma dessas lembranças se materializa na forma de um souvenir, cuja simples visualização me faz lembrar o porquê dele estar ali, suspenso sobre esse pequeno pedaço de madeira na minha parede.

Me pego imaginando, e tentando adivinhar em quantas prateleiras estou. Será que tudo que eu deixei nesse mundo foi aquele chaveiro esquecido numa gaveta qualquer? Ou será que sou eu aquela estatueta que ocupa lugar de destaque na casa das pessoas? Eu não quero passar perto, arranhar a superfície, bater de raspão. As pessoas podem viver perfeitamente sem aquelas coisas supérfluas, mas atribuem valor incalculável àquelas outras pelas quais nutrem afeto.

Nenhum ser humano é capaz de viver sem afeto. Se você acha que sim, pode fechar os olhos, pois você já morreu.

Eu quero que meu impacto nas pessoas seja sutil como a colisão de dois caminhões em sentidos opostos. Sinto que já passou da hora da gente descarrilar trens, afundar barcos, trazer ao chão os aviões. Que a marca vire cicatriz, e que todos que passarem por mim a levem consigo em suas peles, mas que não haja dor. Que as explosões nos pulverizem em pequenos, mas importantes pedaços, incrustrados nos corações daqueles que cruzarem o nosso caminho.
Sejamos importantes, eternos, e sem preço."
Lucas Silveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário